No Paquistão, artistas usam a tecnologia para espalhar mensagem de paz contra extremistas

O extremismo religioso muçulmano é um sentimento muito forte no Paquistão, mas há quem lute contra isso usando a arte justamente por ter sido vítima.

Um desenhista e seus colegas de trabalho, do grupo CFX Comics, resolveram “montar” uma banda virtual a partir de desenhos animados para combater o extremismo no campo das ideias.

Similar ao projeto da banda secular Gorilaz, a banda tem alcançado sucesso entre crianças e adolescentes, e apresenta-se como um fio de esperança para que as diferentes escolhas religiosas não sejam motivo de matança.

“Se não agirmos como sociedade e como pessoas, as coisas podem derrapar muito rapidamente. Mais cedo ou mais tarde, vamos discriminar-nos uns aos outros devido ao tamanho da barba ou ao tipo de jeans que usamos. Vamos matar-nos uns aos outros por causa disso. É a conclusão natural deste tipo de ideologia e da aceitação deste tipo de ódio. Isto acontece no Paquistão e também no Ocidente”, afirmou o criador do projeto, Gauhar Aftab, 31 anos.

Aftab visita escolas e conversa com os alunos sobre a necessidade de adotar uma postura de maior tolerância. Sua iniciativa se explica pelo fato de ele próprio ter sofrido o que chama de “lavagem cerebral” quando frequentava a escola, na década de 1990, na cidade de Lahore.

Segundo informações do site EuroNews, além da versão em papel, o trabalho da banda virtual está disponível também em um aplicativo para smartphone (foto), o que ajuda difundir o projeto mais rapidamente.

O problema do extremismo religioso no Paquistão é tão grave como na Nigéria, Irã, Síria e Iraque, por exemplo. O país é o sétimo colocado na lista da Missão Portas Abertas dentre os principais países onde há risco de morte para cristãos.

Khawja Khalid Farooq, antigo responsável pelo combate ao terrorismo no Paquistão, afirmou que o Estado precisa estabelecer parcerias com a sociedade civil para combater o discurso dos fanáticos: “Se perceberem a mensagem e perceberem que as intenções do Estado são sérias, as pessoas ficarão satisfeitas, apoiarão o Estado e haverá mudanças. Mas, para já, isso é um sonho distante”, opinou.

Outra iniciativa envolvendo arte foi tomada na cidade de Karachi, envolvendo amigos do ativista Sabeen Mahmud, assassinado em abril. Eles reuniram 300 artistas para repintar um muro que estava coberto de pichações com mensagens violentas, de teor extremista religioso: “Se a pessoa lê coisas violentas, isso deixará uma marca nos espíritos, sobretudo nas crianças que veem essas mensagens todos os dias. Se falarmos a linguagem do ódio, então o ódio vai espalhar-se. Se falarmos de amor, o amor vai espalhar-se”, afirmou a paquistanesa Adeela Suleman, que participou da ação e acrescentou que o fim da violência só acontecerá quando toda a sociedade combater os extremistas e suas ideias.

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